domingo, 30 de junho de 2013

É Julho - Viva a Vida!



Por mais complexa que seja a vida, quero falar dela aqui com leveza, nada muito elaborado, pois acredito numa vida simples, assim serei simples também nas minhas palavras, contudo acredito que não menos essencial.

Assim, começo afirmando e clamando que toda a primavera controvertida que surgiu no mês de junho, estenda-se a julho.  Essa é a minha única prece para o meu, o nosso mês de julho.13. Alguns insistem em dizer que esse mês por ser inverno é quieto, triste e frio. De fato é lá no sul, só que hoje o Vento tem soprado para o norte e que se espalhe por toda parte com suas possíveis contradições graciosas.
Ou que seja assim como é em outros tempos e lugares, pois como afirmou o teólogo e poeta mártir Bonhoeffer em seu derradeiro fim:
"O que para muitos é o fim, para mim é início de uma nova Vida".

Venha Julho, mês de nascimentos sutís, de poucas e belas flores, espalhe vida nesse contínuo tempo primaveril brasileiro. Seja Bem vindo Julho bonito.
Venha com sua cor de um amarelo que logo amanhecerá verde.
Venha com as restes de fios dourados do sol que calorosamente abre brechas, penetra o coração e reacende a chama!

E para os dias que se seguirão eu dedicarei um poema de Madre Tereza de Calcutá:

Viva a Vida

A vida é uma oportunidade, aproveite-a
A vida é bela, admire-a
A vida é um sonho, torne-a realidade
A vida é um desafio, enfrente-o
A vida é um dever, cumpra-o
A vida é preciosa, cuide dela
A vida é uma riqueza, conserve-a
A vida é um mistério, descubra-o
A vida é uma promessa, cumpra-a
A vida é tristeza, supera-a
A vida é um canto, cante-a
A vida é uma luta, lute
A vida é uma aventura, arrisque-a
A vida é felicidade, mereça-a
A vida é a vida, defenda-a!

Kz. 
Fort, 01.07.2013


terça-feira, 18 de junho de 2013

EU E O IPÊ AMARELO



Talvez um pouquinho da minha história em livre prosa possa  falar um pouco de mim. Afinal concorda-se que historias eternizam fatos e personalidades.

Pois sente que la vem a História:



Era eu ainda menina e lá estava correndo, brincando e sonhando debaixo do Ipê amarelo...
Setembro em Blumenau ainda tem muito vento e as tardes são ensolaradas.Ventos trazendo notícias de outros mundos e o sol aquecendo os corações daqueles que são assaltados pela beleza dos Ipês, eu, os amarelo. Aquele fora um tempo em que eu ajuntava as flores que pela própria árvore me eram oferecida. E eu menina saia saltitando e oferecia á professora Rosana da segunda série e para minha linda mãe. Elas se parecem muito com o Ipê amarelo.
O tempo foi passando em Blumenau e eu menina fui crescendo...Mas todos os meses de setembro era a mesma coisa: o vento, o sol, o Ipê amarelo.
Então meu coração de menina despertado pelas memórias trazidas pela bela árvore, queria mais uma vez saltitar, mas desta vez não por causa da professora da segunda série ou pela beleza de minha mãezinha, mas por causa do garoto que passou e seu perfume deixou.O Ipê amarelo meus sonhos de adolescentes ascendeu e debaixo de seus galhos eflores me acolheu.

Na mais tenra juventude, debaixo daquela bela árvore percebi que ela continuava a mesma, mas que o meu coração agora batia em ritmo diferente. Não tinha o compasso da infância, nem o da moça apaixonada, agora era um coração que se indignava com as injustiças.  E somente ali, debaixo de uma obra tão divina de frente para a congregação que a minha alma se calava. Olhar para os Ipês agora, era lembrar-se dos meses de chuva que viriam das possíveis enchentes que passaria e tudo carregaria... Das ditas autoridades que em frente ao Ipê se exibiam, prometiam e nada faziam... Então agora conhecia aquela árvore pra alem de sua beleza florida, uma árvore que primeiro perde todas as suas folhas para depois secar, começou a me mostrar que a flor chegaria e eu não precisava me desesperar com a indignação do meu coração que passou a ter sede de justiça e acreditar em flores, mesmo quando ausentes. Com enchente ou sem enchente o Ipê estava ali todos os setembros da vida para mostrar que algo agora eu também poderia fazer a partir dela, esta que em meu coração despertou as mais diferentes sensações...

Foi quando um dia, já adulta, quase que cansada de ser provocada pelo fervor do Ipê amarelo e nada fazer,  que fiz minhas malas e caí literalmente na estrada de meuDeus.Ah aquele setembro nas minhas lembranças foi o mais ensolarado, ventando como nunca havia antes ventado; Ipês amarelos espalhados por toda Blumenau. Um espetáculo que anunciava uma doce despedida...Os sonhos um dia embalados pelos galhos do meus memoráveis Ipês agora ganham forma e repouso em outras terras, outra gente, outro clima...
Penso que se o Ipê nos avisasse que para firmar os primeiros encantos temos que passar por total desencantos, o caminhante do mundo nunca faria as malas...E agora com os pés na estrada, empoeirados, debaixo do ar seco, não haviam mais setembros, nem vento sul, nem Ipês amarelo. Em dias cinza, tudo o que eu tinha eram as lembranças... E assim passaram alguns invernos... Invernos que não faziam frio gostoso para aquecer o coração das gentes, mas invernos que teimam em te dizer que primavera, setembros, nunca mais...

Até que um dia, quando o meu coração já cansado do frio interno (sim, porqueinverno em Minas, só no coração), acordei com uma sensação diferente. Abri a janela e lá estava Ela, fumegante, amarela como o sol e com um tapete reluzente, cobria o chão aos seus pés me convidando a voltar. Não para o lugar das lembranças, mas voltar a sonhar. Irresistivelmente me rendi. Percebi que apesar de o tempo sempre andar e o Vento não parar, o Ipê amarelo sempre esteve ali... Renovando a esperança.

Talvez o pó da estrada, o coração adulto, o desencanto dos tempos de galhos secos, não me permitiam vê-lo incendiar com suas flores. Mas assim como ela, belíssima criaçãoque simplesmente obedece ao comando do Criador e acolhe sonhos de tantos diferentes iguais a mim... assim quero continuar nessa estrada de meu Deus... Criar raízes aéreas para firmar, estender os galhos para abraçar, permitir que  as folhas possam cair para dar lugar  as flores e incendiar corações... 
Assim como hoje tenho o meu incendiado... (Setembro 2008)

Tanto é que já estou saltitando e recriando em outras terras. Aqui o Ipê é o próprio Sol, Setembro, Vento e Manhã de Domingo
 Kz.
Fort, 18.06.2013

domingo, 16 de junho de 2013

Tranquilité?



 
O sagaz Vento do norte é constante insatisfeito, sopra quando, como e pra onde quer.

Numa dança que balança entre o Tempo e o Vento
Minha alma se lança, se cansa e se lança.

Lugares, mares, cidades, pessoas e ares.

Numa dança que balança entre o Tempo e o Vento
Minha alma se lança, se cansa e se lança.

O Tempo e o Vento falam de amigos carentes ainda por conhecer
Batalhas a serem travadas, cidades a serem visitadas.
É preciso defender a causa daqueles que não podem gritar
Que esperam esperançosas por um dia entardecer, aquiescer.

Numa dança que balança entre o Tempo e o Vento
Minha alma se lança, se cansa e se lança.

É certo que um dia abrandará o Vento do norte?
As estações um dia mudam e trarão consigo a brisa suave do sul
E quando aqui chegar, minha alma aquietará.

Tranquilité.

Kz.
Fort, 16.06.2013

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Duas Caixas em mim


Existem duas caixas em mim, a de Brinquedos e a de ferramentas, mas nem sempre foi assim. Pergunto e responda-me sem pensar: "Qual é a sua caixa, a de Brinquedos ou a de ferramentas”?
Da caixa de brinquedos eu nasci e me fiz gente. Até que um dia me apresentaram a de ferramentas e disseram que eu precisava substituir uma pela outra. Foi brutal e doloroso, pois a caixa de ferramentas era feia e fria, sem graça e sem cores. Mas os argumentos vinham dos adultos, aqueles que se acham donos da verdade sobre as crianças, adolescentes e jovens, até porque eles sempre sabem o que é melhor para as crianças. Dificilmente perguntam à elas se concordam ou não, se tem alguma sugestão, opinião formada ou não.
Asceticamente deixei que assim fizessem comigo... e minha caixa de brinquedos foi para o sótão de nossa saudosa casa de madeiras.
Toda criança é muito esperta e inteligente e é claro que separei alguns Brinquedos mais chegados e os guardei em um esconderijo secreto de meu quarto (lugar de intimidade - só se entra com convite - lugar de se estar nu). Deixei-os bem escondidos, pois se meu quarto fosse invadido por aqueles "amiguinhos" enxeridos, eu teria que mostrar que estava me tornando tão adulta quanto eles... triste esse mundo em que estavam me inserindo, quem estava me roubando de mim...
Olhava para a caixa de ferramentas, sem graça e eu sabia então que precisava desenvolver habilidades, aquelas que alguns chamam de habilidades para a vida, ah ilusão petrificada. Fui então a partir daí treinada para ser uma boa moça, educada, pronta para o mundo adulto. Assim segui por um bom tempo, mas, entre um parafuso ajustado e outro eu dava um oi para meus jogos, livros, bonecas, latas...
Os anos foram se passando eu já estava tão presa às necessidades de atender as demandas da caixa de ferramentas que já não tinha mais tempo de visitar os brinquedos e brincadeiras (pior). Fui ficando desajeitada com o meu mundo de origem, desconhecido tornou-se por um longo tempo.
Contudo, com alguns tropeços graciosos fui percebendo que apesar do distanciamento daqueles brinquedos, a criança em mim não havia sido abduzida, apenas esperava o momento em que a porta mágica se abriria novamente para o fantástico da vida. Hoje sei que essa criança pode ser despertada a qualquer momento. Basta que a Vida que é tão dinâmica reinvente a caixa de brinquedos com novos brinquedos e brincadeiras. Pois o brincar é da criança e essa está em algum lugar dentro de cada pessoa, ela só precisa de espaço para se manifestar. E nisso a Vida é competente, nos apresenta espaços, só precisamos estar atentos. Incrível como temos estranhamentos com as caixas de ferramentas e afinidades com as caixas de Brinquedos. Isso é da Vida, do essencial.
E outra vez sou eu, brincando.
Sou grata à Vida que de vez em quando me traz uma ciranda aqui e ali, um joguinho acolá, um poeminha a cá. Isso não diminui minhas crises em relação as constantes ambiguidades da vida que persistem em mim. Hoje, inevitavelmente habitam duas caixas em mim de modo paradoxal. Mas sei que minha Caixa é de Brinquedos. Uma não exclui a outra, hoje se completam e resignificam meu mundo adulto. Pois é quando volto à minha caixa de Brinquedos que minha caixa de ferramentas ganha novas cores e sabores.
 Qual é a sua caixa? Com licença, vou Brincar com as minhas.


Kz. 
Fort, 06/06/13






segunda-feira, 3 de junho de 2013

História de lavadeira - Para o Sr. Espécie de Gergelim




Fim de tarde. Roupas para lavar e isso era certo. O como, é que não era certo.
 No meio do caminho outros caminhos e o que era um fardo pesado tornou-se leve, compartilhado.
Escolhas, risos e prosas, leveza e gratidão pela vida. Beleza.
Agora, roupas limpas e perfumadas, penduradas no varal resplendecem tão transparente que é possível ver e se ver no outro lado à frente. No outro o eu. O outro, eus. Us.
O pão estava garantido e a água também. Entre uma colher e outra, um gole e outro, roupas batidas, memórias de antes e de agora.
Chegou à noite, e muita roupa ainda havia para ser lavada.
Mais roupas e mais memórias, e agora com cheiro de mar no ar, a lua cheia feito tapioca e limão azedo como mel. As perguntas, as brincadeiras, o cuidado, a confiança. Tudo isso resplandecendo como roupa limpa e perfumada, estendida no varal.
Acabaram as roupas? Dever cumprido, sem o peso do dever.
A lavadeira vai dormir embalada pela lenda contada pelo Sr. Espécie de Gergelim e agora toda essa memória está guardada no relicário, amarrada em fitas coloridas de cetim.
Como é gracioso o Criador, como é bondoso o Sr. Espécie de Gergelim. Como é grato o coração da lavadeira.
Kz.
Fort, 30.05.2013

sábado, 1 de junho de 2013

Prefiro o Outono


Acho-o mais bonito, mais sábio, mais tranqüilo.
A primavera é linda, cheia de cores, cios e odores. Mas não me comove. Não encontro nela lugar para a saudade. Por isso lhe falta aquela gota de tristeza, que mora em toda obra de arte. É que ela existe na paradisíaca inconsciência do fim...
O verão é diferente. Excita meu lado de fora, e me transforma em sol, céu e mar. Misturo-me com seu universo luminoso, quente e suarento, cheio de cachoeiras e limonadas geladas. Tudo me convida a não pensar, a só rir, gozar, usufruir. Como diz Fernando Pessoa, pensamento é doença dos olhos. Ao que eu acrescentaria: do corpo inteiro. A gente pensa quando o dente dói, quando o sapato aperta, quando a azia queima, quando o coração tropeça. O corpo saudável é transparente. Sai de sí e fica todo no mar, no céu, no sol. É a doença que o torna opaco. O verão faz este milagre comigo: esvazia-se de mim e eu me perco (eroticamente) nos seus braços...
Mas o outono me chama de volta. Devolve-me à minha verdade. Sinto então a dor bonita da nostalgia, pedaço de mim que não posso me esquecer.
Primeiro é aquele friozinho pelas manhãs e pelas tardes. O verão já se foi. Fica, dentro, o sentimento de que tudo é despedida. O Outono tem memória. Coisa de que se precisa para ter saudade, e saudade como nos ensinou Riobaldo, é uma espécie de velhice.
Depois são as cores. O céu, azul profundo, as árvores e grama de um outro verde, misturado com o dourado dos raios de sol inclinados. Tudo fica mais pungente ao cair da tarde, pelo frio, pelo crepúsculo, o que revela o parentesco entre o Outono e o entardecer. O Outono é o ano que entardece.
E as tarde, como se sabe, são aquele tempo do dia quando tristeza e beleza se misturam. E o mundo de dentro reverbera com o mundo de fora. É este poente precoce e azulando-se o sol entre farrapos finos de nuvens, enquanto a lua é já vista, mística do outro lado. Quando tudo se aquieta, e o tempo diz suas passagem nas cores que se sucedem, o rosa, o vermelho, o marrom, o roxo, o negro... Sabe-se então que o fim chegou. Pôr do sol é matáfora poética, e se o sentimos assim é porque sua beleza triste mora em nosso próprio corpo. Somos seres crepusculares. É por isso que esta é a hora do terror noturno, quando as pessoas, lembrando-se do seu parentesco com as aves, voltam ansiosas para casa, e acendem as luzes que não se apagam.
Gosto de ver balões que sobem, sei que são proibidos. Mas são belos. Não ficariam bonitos nem de manhã nem ao meio-dia. São entes do crepúsculos. É preciso que a luz já esteja indo para que sua beleza (e risos) apareçam, ao entardecer. Cada balão não será isto? Um grande riso ao cair da noite...
Há prazeres da Primavera.
Há prazeres do Verão.
Mas há uma alegria que só surge no Outono.
Quem, espantado pelo terror noturno, se refugia em casa, não pode ver nem a beleza do crepúscolo e nem os risos dos balões. Estes são prazeres que se dão somente àqueles que suportam o frio e as cores que mergulham no escuro.
O que me faz lembrar daquela delicosa estória Zen:

"Um homem ia pela floresta quando ouviu um rugido terrível. Era um leão. Ele teve muito medo e se pôs a correr. Mas a floresta era densa e o sol ja estava se pondo. Não viu por onde ia e caiu num precipício. No desespero agarrou-se a um galho que se projetava sobre o abismo e lá ficou. Foi quando, olhando para a parede do do precipício, viu uma pequena planta que ali crescia. Era uma pé de morangos. Nela havia um morango vermelho. Estendeu seu braço e o colheu. E comeu." Aqui termina a estória.

Há morangos que só se comem sobre o abismo.
Balões que só sobem ao crepúsculo.
E beleza que só existem no Outono.
É preciso beber a taça, até o fim.
Texto de Rubem Alves. 
Tempus Fúgit

Ao ler esse texto percebo o quanto adiei meu inevitável Outono. Talvez por estar na terra do sol, mas aquilo que é seu um dia lhe acontece. Melhor não ficar adiando. Prefiro o Outono



Kz.
Fort, 01.06.13