domingo, 29 de julho de 2012

Proseando - Rubem Alves


Bem, nada melhor do que alguém que gosta de boa prosa e a pratica há mais tempo para falar de maneira simples, o que eu pretendo ao oferecer este espaço para um Dedo de Prosa. Rubem Alves, alguém que me inspira, que tem o dom de transformar em palavras os meus sentimentos e desejos. Vejo o que ele diz sobre seu espaço de prosa em sua casa:

Prosear é um jeito de falar. Fala sem objetivo definido, como o vôo dos urubus - indo ao sabor do vento. Palavras fluindo. Um jeito taoísta de ser. Para prosa não existe 'ordem do dia', não há conclusões, não há decisões. A prosa não quer chegar a nenhum lugar. A prosa encontra sua felicidade em prosear. Como andar de barco a vela em que o bom não é chegar mas o 'estar indo'. 'A coisa não está nem na partida nem na chegada, mas na travessia', Guimarães Rosa. Prosear é brincar com as palavras. Escrevi uma crônica com o título Tênis x Frescobol, sobre dois tipos de fala. Fala do tipo Tênis tem um objetivo preciso: reduzir o outro ao silêncio por meio de uma cortada. Ter razão. Ganhar o argumento. Convencer. Sempre termina mal. Um ganha, fica feliz e se sentindo superior. O outro perde, fica com raiva e se sentindo inferior. Frescobol é diferente. A felicidade do jogo está em estar acontecendo, em não parar, vai, vem, vai, vem, vai, vem, como numa transa indiana, sem orgasmo, feita de um prazer permanente que não acaba. O orgasmo na transa, como a cortada no tênis, são o fim do brinquedo. Saber prosear, jogar conversa fora, é o segredo das relações amorosas. Nietzsche dizia que quando se vai casar a única pergunta importante a se fazer é 'terei prazer em conversar com essa pessoa quando eu for velho?' Nessa sala estaremos proseando. Falar sobre o que der na telha. Pensamentos avulsos. Dicas. Informações sobre as coisas novas na minha casa. Apareça sempre para prosear!


Por, Kz
29/07/2012



quinta-feira, 26 de julho de 2012

Travessia


Qual é a condição para atravessar? Alguém diria que é preciso deixar.
Será que se deixa antes de seguir adiante ou se deixa a medida que os passos avançam?
Em que grão de areia somado aos outros, a praia tornou-se praia? Ou em qual grão de areia subtraído, a praia deixará de ser praia?
Não se sabe exatamente. Só se sabe que para atravessar é preciso deixar. Deixar tudo aquilo que impede de acontecer a travessia.
Em algum ponto coisas vão ficar. Se não deixar, com elas, nelas, naquele ponto a vida ficará e passará.
Certo poeta disse: "É tempo de deixar as roupas velhas que já tomaram a forma do corpo (...), é tempo de travessia".(Fernando Pessoa)
Outro Poeta que foi em vida a própria Poesia encarnada falou: "Não se põe remendo novo em roupa velha pois o remendo forçará a roupa e tornará pior o rasgo".
Deixe as roupas que de tão velhas, estão empregnadas no corpo e já não se sabe o que é pele e o que é veste.
Confie, deixe, atravesse.
Mas Poeta, e quando nú me encontrar? Do que esta travessia me vestirá? O Poeta não responde. Pois tudo o que se necessita saber é que com as velhas roupas não dá para avançar.
Dizia Guimarães Rosa: "A coisa não está nem na partido e nem na chegada, mas na travessia". Na travessia está a descoberta e na descoberta está o prazer de viver.
É tempo de deixar as roupas velhas. É tempo de TRAVESSIA.
E a condição? Dê um passo.
Afinal o coração do homem faz planos, mas a resposta vem de Deus (Pv.19.21)

Kz,
26/07/2012

quinta-feira, 19 de julho de 2012

MEU LADO AVESSO



É o avesso sincero que torna belo o direito. Pois todo o lado direito é efeito das amarras interiores. 
Todos temos um lado  avesso.

Mas quem saberá? 
Aquele que se permite olhar e ser olhado, mostrar e ser mostrado por dentro.
Mas quem se permitirá? 
Afinal o avesso é feio. 
Se quiseres conhecer o avesso que existe dentro de cada pessoa (de ti mesmo) e deixar-se surpreender pelo desconhecido, renda teus olhos. Olhar para além do que se pode ver, fascínio estético, quem pode explicar?

Disse o Poeta que os olhos são o reflexo da alma.

Pois só conhece de fato o direito se entender o que se passa pelo avesso. 

Kz,
19/07/2012


terça-feira, 17 de julho de 2012

FLORES E BORBOLETAS DANÇANTES




Disse a Flor ao Pequeno Príncipe: "É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer a borboleta" (Antoine de Saint-Exupery)

As vezes me sinto assim como uma flor tomada por algumas larvas. Gosmentas parasitas que se alimentam de minhas energias. São elas meus sentimentos em aparente putrefação, doídos, minha metamórphosis que pessa pela metamórphosis do outro em erupção. 
Eles estão à flor da pele, ou na pela da Flor. Mas para a Flor que ja contemplou a beleza das Borboletas, sabe que vale a pena suportar e ir além da dor, isso se a alma não for pequena. 
Um dia as incômodas larvas pegajosas serão transformadas em lindas Borboletas que carregarão consigo o pólem daquela que a abrigou.
Então, a Borboleta dançante derramará desse pó/lem mágico pelo ar e novas flores irão desabrochar.
São os mais belos insetos, chamdos de Borboletas que perpetuam a existência da Flor. Por isso, Flor, suporte as larvas e conheça o belo lado da dor. 
Não há nada mais bonito que contemplar Borboletas dançantes pelo ar.
Kz
17/07/2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Doces Brisas e suas Nuvens

Todos os dias procuro receber o Dia como um presente.
Presente se recebe e desfruta apenas.
Desfrutar os dias a mim concedido tem sido nobre missão.
Mas como olhar para aqueles dias em que parecem ser prisão, ingratidão, insatisfação? Não é caso do meu dia de hoje. Coisas do Dia são coisas do coração. Não sou assim, mas as vezes fico assim, sentindo-me ingrata, insatisfeita, aprisionada.... Mas logo passa pois são situações reais mas que não combinam com Pássaros...
Então mais uma vez o Senhor do Dia lança luz na escuridão e me mostra que se a vida é um presente,
não é porque situações diárias permanecem em uma ordem imutável.
Ao contrário disso o dia tem movimento.
Movimento do Vento que traz e leva de volta os desfrutes do presente dia para quem sabe um dia retornar.
E quando retorna já não tem mais o mesmo cheiro, o mesmo gosto e carrega novas cores, apresenta coisas novas.
As cores do Vento só os olhos do coração conseguem enxergar. Não importa se as cores são nubladas e tristes, alegres e vivas. Poder enxergar as cores do Vento é enxergar a alma de alguém.
Um dia desses passados eu estava cega.
A pior cegueira é aquela que não te permite enxergar seu dia como um presente.
Foi quando derrepente senti que o Vento aproximava.
Não conseguia identificar bem de onde vinha, mas ficava cada vez mais proximo.
O Vento estava devolvendo-me a visão e renovando a gratidão pelo presente chamado Dia.
Aquele Dia atendia pelo nome de Nathália Rodrigues que hoje batizo de DOCE BRISA.
Ela tinha um riso tímido, até meio triste mas cheio de paixão e esperança.
Sua presença encheu o local de cores novas e meu coração de gratidão.
Pessoas são presentes da Vida presente e carregam consigo algo de nós que os toca e nos renova.

Daquele encontro trazido pelo Vento nasceram alguns versinhos que retratam o coração da DOCE BRISA Ela tão logo pegou um papael e um lápis e rabiscou. Comigo compartilhou e agora não posso reter e compartilho seus versos, Nathália:

Doces Brisas e suas Nuvens

O Vento voa.
O Vento vento.
Traz nos seus ares dançantes
nuvens fofas de algodão
que atravéz do Vento
traz o alento
ou o desafio o meu contrito coração.

Voa vento.
Venta Vento.
E dançe suas doces brisas.

Traga em suas brisas
as surpresas de cada nuvem.
Com suas muitas linguagens e muito o que falar.
Nunca repetidas.
Assim como o vento nunca venta a mesma brisa.

Voa vento.
Venta vento.
E diga tudo o que veio me falar.



Brancas como algodão.
Negras trazendo escuridão
Majestosas até estremecer.
Da manhã ao entardecer
estão a me perceber.

Com Faces de mocinhas, malvadas
estrategimanete enviadas
pelas brisas do vento
tão claro
com teus olhos não vê?

Voa vento.
Venta vento.
Mas Vento
Venha!
Poema de Nathália Rodrigues. Presente do Dia que recebi e desfrutei
Kz,
13/07/2012



terça-feira, 10 de julho de 2012

Minha Metáfora



Estava pensando sobre mim.
Em torno de que forças tenho construído minha vida?
Outro dia postei que a pergunta que permeava minha existência naquele momento não era sobre quem sou, mas sobre quem não sou.
 Talvez a história da humanidade se construa ao longo dos anos por símbolos, palavras, códigos. Assim se faz e se refaz. Na finitude da vida e da existência das coisas os códigos e palavras são decodificados. Civilizações inteiras se faz em volta de uma ideia.
Em qual palavra um dia conhecida nasceu minha tristeza?
E qual foi a palavra que um dia lançada me arracou sorriso terno e sincero?
Palavras geram ideias que constrói princípios. Princípios são passados de geração em geração. Aqui nasce a arte de comunicar chamada de metáfora.
Talvez a metáfora que tanto me identifico tenha nascido de palavras um dia a mim oferecidas ou de palavras por mim ainda não conhecidas mas que minha alma insiste em encontrar.
Gosto de observar as marcelas do campo (porque aqui na minha região não é comum campos com lírios) e as aves no céu.
Pássaros e Flores - palavras que compõe a metáfora de minha existência -
Magia profunda que me lança em busca do ser.
Não combino com cavernas, casulos, não combino com grutas. Também não combino com rochas, areia e janelas. Amanhã já não sei, mas hoje sim.
Combino com Pássaros e Flores.
Afinal sinto necessidade vital de desabrochar e voar.
Diz o poeta que "A porta da Felicidade abre para fora"
Kz.
10/07/2012

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A PRECIOSA ESCOLHA



            Há quem diga que a vida é feita de escolhas. Acredito que muitos concordam com esta afirmativa. Porem não me intimido em lançar a possibilidade de pensarmos que talvez não tenhamos escolhas diante da vida e assim vivemos inevitavelmente a história que a vida de antemão nos preparou. Não sei.
                Mas acredito na utopia e talvez acreditar que faço escolhas me insere na dinâmica da vida e isso sustenta mais a busca pelo alcance do insaciável utópico. Então faço o que faço, sou o que sou em busca da PRECIOSA ESCOLHA.
                Vivemos dias largos de caminhos espaçosos. Talvez um olhar rápido e raso sobre a história da humanidade nos mostrará que em nenhuma outra era foi tão fácil o acesso a tudo o que se deseja ter, possuir, deixar, largar. Grande é a porta e largo o caminho. Pessoas vêm e vão e elas já não vêm mais para ficar ou deixar sua marca, apenas passam. Um tempo muito mais efêmero que a erva do campo que hoje temos e amanhã se desfaz. Pessoas correm de um lado para o outro em suas vias espaçosas e tudo o que querem é largar o abismo, o perigo, o sujo, o feio. Escolhem então a porta larga para encontrar e possuir segurança.
                “Somente as pessoas que deixaram de amar se contentam com a segurança” essa afirmação de Rubem Alves me lembra dum poema de Fernando Pessoa. Compartilho um fragmento:

Quem ama sempre ouve a voz do mar...
Que voz vem do som das ondas que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala, mas que, se escutarmos,
Cala, por ter havido escutar.
Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas (...)?
Por te cruzarmos, quantas mães choraram quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar, porque fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do bojador, tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.
                 
               Escolher o caminho fácil e espaçoso que fica da margem para fora do assombroso mar é contentar-se com a segurança. É não sujar-se, não misturar-se com o feio. É não submeter-se ao desconforto in/cômodo. Estar seguro é estar limpo mesmo que o preço seja adquirir alma pequena, e olho de boi, parado que nada vê. E quando vê fica assustado.
Nietzsche disse que “quem viu o céu espelhado no abismo e perigo - esse terá para sempre no olhar, o brilho da eternidade. E por isso será amado”.
                 Mas o que preferimos? Ganhar ou perder a vida? Temos a preciosa escolha? Marchamos por um lugar ao sol, não queremos a tempestade do mar. Jesus disse: “quem quiser ganhar a sua vida perdê-la-á, mas aquele que perder sua vida este a encontrará”. Pessoas corajosas conhecem o verdadeiro significado de segurança e por isso a coloca na perspectiva ideal em função da PRECIOSA ESCOLHA.  Um alpinista não se lança sem verificar suas cordas, pois com elas se dependurará sobre o abismo. Também o navegador que examina seu barco para navegar os mares polares sabe do lugar que a segurança deve ocupar. Rubem Alves diz que “SEGURANÇA É PRECISO POR AMOR AOS CALAFRIOS E RISCOS”. Ou seja, não serve para outra coisa senão arriscar-se. Pois assim faremos a preciosa escolha de Amar! Fruto de alma não pequena.
                Jesus um dia desses (bem distante daqui e desse tempo) ensinando a multidão disse:
                “Entrai pela porta estreita. Larga é porta e espaçoso o caminho que conduz para a perdição, e são muitos os que entram por ela”. Perdição é vida segura, confortável, sem afeição, vida perdida. E Ele continua:
                “...porque estreita é porta e apertado o caminho que conduz para vida eterna, e são poucos os que acertam ela”. Jesus apresentou a PRECIOSA ESCOLHA da vida. Jesus escolheu sujar-se com os sujos, ajuntar-se com os que causavam escândalo, ele escolheu a margem e não o centro. O que Jesus mostrava não era bonito. E essa é a beleza do evangelho. Imagine ele dizendo: - por cima saia de renda, por baixo deus que me defenda; por fora bela viola, por dentro bolo bolorento; por fora parede branca de caiação, por dentro, cadáveres em decomposição – Ninguém que se sente seguro demais nas suas escolhas gosta de ouvir coisas desse nível. E sim, o mataram. Mataram Jesus.
                Mataram? Não! Ele entregou a sua vida para morte, porque amou. Ele escolheu perder sua vida.
                Quando olho para a vida de Jesus e de outros escandalosos como ele, sou mais uma vez inspirada a fazer A ESCOLHA PRECIOSA. Ouço a voz que vem do mar, quero cruzar a linha do abismo e perigo e ali ver refletir o céu. Quero amar. Não quero a segurança, mas se a segurança é importante que seja para firmar a corda pela qual me lançarei rumo ao abismo. Deus é abismo. Alma profunda. A poesia sagrada diz que um abismo chama outro abismo. Cruzarei o mar. Que a segurança sirva para ajustar a vela do barco que me conduzirá.
                Hoje mais uma vez escolho o sujo, o feio, quero ir além da dor. Isso é belo. Não chorem por mim. Chorem pelos que escolherão ficar no cais. “Deus é perigo e abismo, mora no grande mar. (Fernando Pessoa)”.
                Eis aqui o paradoxo da PRECIOSA ESCOLHA:
- Vida perdida que é ganha;
- Porta larga e caminho espaçoso na terra sólida que gera alma pequena e olho de boi que nada vê;
- Porta estreita e caminho apertado que conduz ao largo e furioso mar. Intenso como alma grande.

Encerro minhas palavras com agudas palavras de Cecília Meireles:

Para diante! Pelo mar largo!
Livrar o corpo da lição frágil da areia.
Ao mar!
A solidez da terra, monótona,
parece-nos fraca ilusão.
Queremos a ilusão do grande mar,
multiplicadas em suas malhas de perigo.

Se a vida é feita de escolhas, você tem hoje a oportunidade de fazer A PRECIOSA ESCOLHA.
Kz.
09/07/2012

quarta-feira, 4 de julho de 2012


Lindo Dia

O coração é uma flor
Que brota no chão rochoso
Mas não há nenhum quarto,
Nenhum lugar para alugar nesta cidade

Você está sem sorte
E o motivo que você tinha para se preocupar
O trânsito engarrafou
E você não está indo a lugar algum

Você achou que havia encontrado um amigo
Para lhe tirar deste lugar
Alguém a quem você pudesse dar uma força
em troca de misericórdia

É um lindo dia
O céu desaba
E você acha que é um lindo dia
Não deixe ele escapar

Você está na estrada
Mas não tem destino
Você está na lama,
No labirinto da imaginação dela

Você ama esta cidade,
Mesmo que isso não soe verdadeiro
Você conhece ela inteira,
E ela conhece você por inteiro

É um lindo dia
Não deixe ele escapar
É um lindo dia

Toque-me,
Leve-me para aquele outro lugar
Ensine-me,
Eu sei que não sou um caso perdido

Veja o mundo em verde e azul
Veja a China bem na sua frente
Veja os canyons rasgados por nuvens
Veja o cardume de atum limpando o mar
Veja as fogueiras beduinas à noite
Veja os campos de petróleo à primeira luz e,
Veja o pássaro com um ramo no bico
Depois da enchente todas cores apareceram.

Era um lindo dia
Não deixe ele escapar
Lindo dia

Toque-me,
Leve-me para aquele outro lugar
Alcançe-me,
Eu sei que não sou um caso perdido

O que você não tem, você não precisa agora
O que você não sabe você pode sentir de alguma forma
O que você não tem você não precisa agora
Você não precisa agora

Foi um lindo dia...
(U2)

domingo, 1 de julho de 2012

Graciosa Poesia triste – Graciosa Palha Italiana – Graciosos Anjos


                Outro dia desses o sol não apareceu, parecia o fim da minha odisséia. A vida não fazia sentido, o céu sem cor e minha poesia era triste.
                Mas um Anjo Loiro tipo estrela do rock me disse: “mesmo triste ainda é poesia”. Lembrei que Adélia Prado também disse isso. Então pensei: se hoje não tenho a cor dos raios do sol e a vida parece não fazer sentido mas  eu ainda tenho a Poesia ... Bem gracioso isso, considerei.
                Afinal, se eu corresse para cima, a sensação do infinito me consumia; para baixo ainda mais me perderia. Para os lados então? Não. Correntes me prendiam, eu não tinha para onde ir. Estávamos eu e minha poesia triste, minha Doce poesia triste. Ficamos horas na companhia uma da outra.
Espere.
Doce?
                Foi aí que parada no silêncio derradeiro minha mente foi assaltada por uma lembrança doce do doce que ganhei de outro Anjo chamado Pássaro. (Dizem que era a lembrancinha do do último sagrado rito da Coragem com a Liberdade (deliciosa palha italiana). Bem, eu não acredito ter comido a lembrança da Aliança do meu  Pássaro, não sei se consigo comer lembranças.
Eu não tinha pra onde ir, eu não tinha o que fazer. Peguei meu doce, sentei, comi e descansei. Enquanto descansada desfrutando do prazer do doce minhas memórias me encheram o coração de beleza e delícias.
                Foi aí que percebi que nas pequenas lembranças e nos meus Anjos, a vida continua fazendo sentido e que mesmo quando o Sol não brilha ele continua ali no seu lugar, e as nuvens vão passar...
                Há graça nas coisas da graça...
Kezzia Cristina Silva
Inverno / Junho / 2012