quinta-feira, 6 de junho de 2013

Duas Caixas em mim


Existem duas caixas em mim, a de Brinquedos e a de ferramentas, mas nem sempre foi assim. Pergunto e responda-me sem pensar: "Qual é a sua caixa, a de Brinquedos ou a de ferramentas”?
Da caixa de brinquedos eu nasci e me fiz gente. Até que um dia me apresentaram a de ferramentas e disseram que eu precisava substituir uma pela outra. Foi brutal e doloroso, pois a caixa de ferramentas era feia e fria, sem graça e sem cores. Mas os argumentos vinham dos adultos, aqueles que se acham donos da verdade sobre as crianças, adolescentes e jovens, até porque eles sempre sabem o que é melhor para as crianças. Dificilmente perguntam à elas se concordam ou não, se tem alguma sugestão, opinião formada ou não.
Asceticamente deixei que assim fizessem comigo... e minha caixa de brinquedos foi para o sótão de nossa saudosa casa de madeiras.
Toda criança é muito esperta e inteligente e é claro que separei alguns Brinquedos mais chegados e os guardei em um esconderijo secreto de meu quarto (lugar de intimidade - só se entra com convite - lugar de se estar nu). Deixei-os bem escondidos, pois se meu quarto fosse invadido por aqueles "amiguinhos" enxeridos, eu teria que mostrar que estava me tornando tão adulta quanto eles... triste esse mundo em que estavam me inserindo, quem estava me roubando de mim...
Olhava para a caixa de ferramentas, sem graça e eu sabia então que precisava desenvolver habilidades, aquelas que alguns chamam de habilidades para a vida, ah ilusão petrificada. Fui então a partir daí treinada para ser uma boa moça, educada, pronta para o mundo adulto. Assim segui por um bom tempo, mas, entre um parafuso ajustado e outro eu dava um oi para meus jogos, livros, bonecas, latas...
Os anos foram se passando eu já estava tão presa às necessidades de atender as demandas da caixa de ferramentas que já não tinha mais tempo de visitar os brinquedos e brincadeiras (pior). Fui ficando desajeitada com o meu mundo de origem, desconhecido tornou-se por um longo tempo.
Contudo, com alguns tropeços graciosos fui percebendo que apesar do distanciamento daqueles brinquedos, a criança em mim não havia sido abduzida, apenas esperava o momento em que a porta mágica se abriria novamente para o fantástico da vida. Hoje sei que essa criança pode ser despertada a qualquer momento. Basta que a Vida que é tão dinâmica reinvente a caixa de brinquedos com novos brinquedos e brincadeiras. Pois o brincar é da criança e essa está em algum lugar dentro de cada pessoa, ela só precisa de espaço para se manifestar. E nisso a Vida é competente, nos apresenta espaços, só precisamos estar atentos. Incrível como temos estranhamentos com as caixas de ferramentas e afinidades com as caixas de Brinquedos. Isso é da Vida, do essencial.
E outra vez sou eu, brincando.
Sou grata à Vida que de vez em quando me traz uma ciranda aqui e ali, um joguinho acolá, um poeminha a cá. Isso não diminui minhas crises em relação as constantes ambiguidades da vida que persistem em mim. Hoje, inevitavelmente habitam duas caixas em mim de modo paradoxal. Mas sei que minha Caixa é de Brinquedos. Uma não exclui a outra, hoje se completam e resignificam meu mundo adulto. Pois é quando volto à minha caixa de Brinquedos que minha caixa de ferramentas ganha novas cores e sabores.
 Qual é a sua caixa? Com licença, vou Brincar com as minhas.


Kz. 
Fort, 06/06/13






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