terça-feira, 18 de junho de 2013

EU E O IPÊ AMARELO



Talvez um pouquinho da minha história em livre prosa possa  falar um pouco de mim. Afinal concorda-se que historias eternizam fatos e personalidades.

Pois sente que la vem a História:



Era eu ainda menina e lá estava correndo, brincando e sonhando debaixo do Ipê amarelo...
Setembro em Blumenau ainda tem muito vento e as tardes são ensolaradas.Ventos trazendo notícias de outros mundos e o sol aquecendo os corações daqueles que são assaltados pela beleza dos Ipês, eu, os amarelo. Aquele fora um tempo em que eu ajuntava as flores que pela própria árvore me eram oferecida. E eu menina saia saltitando e oferecia á professora Rosana da segunda série e para minha linda mãe. Elas se parecem muito com o Ipê amarelo.
O tempo foi passando em Blumenau e eu menina fui crescendo...Mas todos os meses de setembro era a mesma coisa: o vento, o sol, o Ipê amarelo.
Então meu coração de menina despertado pelas memórias trazidas pela bela árvore, queria mais uma vez saltitar, mas desta vez não por causa da professora da segunda série ou pela beleza de minha mãezinha, mas por causa do garoto que passou e seu perfume deixou.O Ipê amarelo meus sonhos de adolescentes ascendeu e debaixo de seus galhos eflores me acolheu.

Na mais tenra juventude, debaixo daquela bela árvore percebi que ela continuava a mesma, mas que o meu coração agora batia em ritmo diferente. Não tinha o compasso da infância, nem o da moça apaixonada, agora era um coração que se indignava com as injustiças.  E somente ali, debaixo de uma obra tão divina de frente para a congregação que a minha alma se calava. Olhar para os Ipês agora, era lembrar-se dos meses de chuva que viriam das possíveis enchentes que passaria e tudo carregaria... Das ditas autoridades que em frente ao Ipê se exibiam, prometiam e nada faziam... Então agora conhecia aquela árvore pra alem de sua beleza florida, uma árvore que primeiro perde todas as suas folhas para depois secar, começou a me mostrar que a flor chegaria e eu não precisava me desesperar com a indignação do meu coração que passou a ter sede de justiça e acreditar em flores, mesmo quando ausentes. Com enchente ou sem enchente o Ipê estava ali todos os setembros da vida para mostrar que algo agora eu também poderia fazer a partir dela, esta que em meu coração despertou as mais diferentes sensações...

Foi quando um dia, já adulta, quase que cansada de ser provocada pelo fervor do Ipê amarelo e nada fazer,  que fiz minhas malas e caí literalmente na estrada de meuDeus.Ah aquele setembro nas minhas lembranças foi o mais ensolarado, ventando como nunca havia antes ventado; Ipês amarelos espalhados por toda Blumenau. Um espetáculo que anunciava uma doce despedida...Os sonhos um dia embalados pelos galhos do meus memoráveis Ipês agora ganham forma e repouso em outras terras, outra gente, outro clima...
Penso que se o Ipê nos avisasse que para firmar os primeiros encantos temos que passar por total desencantos, o caminhante do mundo nunca faria as malas...E agora com os pés na estrada, empoeirados, debaixo do ar seco, não haviam mais setembros, nem vento sul, nem Ipês amarelo. Em dias cinza, tudo o que eu tinha eram as lembranças... E assim passaram alguns invernos... Invernos que não faziam frio gostoso para aquecer o coração das gentes, mas invernos que teimam em te dizer que primavera, setembros, nunca mais...

Até que um dia, quando o meu coração já cansado do frio interno (sim, porqueinverno em Minas, só no coração), acordei com uma sensação diferente. Abri a janela e lá estava Ela, fumegante, amarela como o sol e com um tapete reluzente, cobria o chão aos seus pés me convidando a voltar. Não para o lugar das lembranças, mas voltar a sonhar. Irresistivelmente me rendi. Percebi que apesar de o tempo sempre andar e o Vento não parar, o Ipê amarelo sempre esteve ali... Renovando a esperança.

Talvez o pó da estrada, o coração adulto, o desencanto dos tempos de galhos secos, não me permitiam vê-lo incendiar com suas flores. Mas assim como ela, belíssima criaçãoque simplesmente obedece ao comando do Criador e acolhe sonhos de tantos diferentes iguais a mim... assim quero continuar nessa estrada de meu Deus... Criar raízes aéreas para firmar, estender os galhos para abraçar, permitir que  as folhas possam cair para dar lugar  as flores e incendiar corações... 
Assim como hoje tenho o meu incendiado... (Setembro 2008)

Tanto é que já estou saltitando e recriando em outras terras. Aqui o Ipê é o próprio Sol, Setembro, Vento e Manhã de Domingo
 Kz.
Fort, 18.06.2013

3 comentários:

  1. Amei sua prosa!! Me vi em alguns momentos. Saudades, beijos

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  2. Menina que coisa linda! ♡ Encantada com sua prosa. Sua história de vida, tão romântica, simples e fácil de compreender. Deve ter muitas saudades.

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