Há quem diga que a vida é feita
de escolhas. Acredito que muitos concordam com esta afirmativa. Porem não me
intimido em lançar a possibilidade de pensarmos que talvez não tenhamos
escolhas diante da vida e assim vivemos inevitavelmente a história que a vida
de antemão nos preparou. Não sei.
Mas
acredito na utopia e talvez acreditar que faço escolhas me insere na dinâmica
da vida e isso sustenta mais a busca pelo alcance do insaciável utópico. Então faço
o que faço, sou o que sou em busca da PRECIOSA ESCOLHA.
Vivemos
dias largos de caminhos espaçosos. Talvez um olhar rápido e raso sobre a
história da humanidade nos mostrará que em nenhuma outra era foi tão fácil o
acesso a tudo o que se deseja ter, possuir, deixar, largar. Grande é a porta e
largo o caminho. Pessoas vêm e vão e elas já não vêm mais para ficar ou deixar
sua marca, apenas passam. Um tempo muito mais efêmero que a erva do campo que
hoje temos e amanhã se desfaz. Pessoas correm de um lado para o outro em suas
vias espaçosas e tudo o que querem é largar o abismo, o perigo, o sujo, o feio.
Escolhem então a porta larga para encontrar e possuir segurança.
“Somente
as pessoas que deixaram de amar se contentam com a segurança” essa afirmação de
Rubem Alves me lembra dum poema de Fernando Pessoa. Compartilho um fragmento:
Quem ama sempre ouve
a voz do mar...
Que voz vem do som
das ondas que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que
nos fala, mas que, se escutarmos,
Cala, por ter havido
escutar.
Ó mar salgado, quanto
do teu sal são lágrimas (...)?
Por te cruzarmos,
quantas mães choraram quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas
ficaram por casar, porque fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo
vale a pena se a alma não é pequena.
Quem quer passar além
do bojador, tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo
e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.
Escolher o caminho fácil e espaçoso que fica da margem para fora do assombroso
mar é contentar-se com a segurança. É não sujar-se, não misturar-se com o feio.
É não submeter-se ao desconforto in/cômodo. Estar seguro é estar limpo mesmo
que o preço seja adquirir alma pequena, e olho de boi, parado que nada vê. E
quando vê fica assustado.
Nietzsche disse que “quem viu o
céu espelhado no abismo e perigo - esse terá para sempre no olhar, o brilho da
eternidade. E por isso será amado”.
Mas o que preferimos? Ganhar ou perder a vida?
Temos a preciosa escolha? Marchamos por um lugar ao sol, não queremos a
tempestade do mar. Jesus disse: “quem
quiser ganhar a sua vida perdê-la-á, mas aquele que perder sua vida este a
encontrará”. Pessoas corajosas conhecem o verdadeiro significado de
segurança e por isso a coloca na perspectiva ideal em função da PRECIOSA
ESCOLHA. Um alpinista não se lança sem
verificar suas cordas, pois com elas se dependurará sobre o abismo. Também o
navegador que examina seu barco para navegar os mares polares sabe do lugar que
a segurança deve ocupar. Rubem Alves diz que “SEGURANÇA É PRECISO POR AMOR AOS CALAFRIOS E RISCOS”. Ou seja, não
serve para outra coisa senão arriscar-se. Pois assim faremos a preciosa escolha
de Amar! Fruto de alma não pequena.
Jesus
um dia desses (bem distante daqui e desse tempo) ensinando a multidão disse:
“Entrai pela porta
estreita. Larga é porta e espaçoso o caminho que conduz para a perdição, e são muitos
os que entram por ela”. Perdição é vida segura, confortável, sem afeição,
vida perdida. E Ele continua:
“...porque estreita é porta e apertado o
caminho que conduz para vida eterna, e são poucos os que acertam ela”.
Jesus apresentou a PRECIOSA ESCOLHA da vida. Jesus escolheu sujar-se com os
sujos, ajuntar-se com os que causavam escândalo, ele escolheu a margem e não o
centro. O que Jesus mostrava não era bonito. E essa é a beleza do evangelho. Imagine
ele dizendo: - por cima saia de renda, por baixo deus que me defenda; por fora
bela viola, por dentro bolo bolorento; por fora parede branca de caiação, por
dentro, cadáveres em decomposição – Ninguém que se sente seguro demais nas suas
escolhas gosta de ouvir coisas desse nível. E sim, o mataram. Mataram Jesus.
Mataram?
Não! Ele entregou a sua vida para morte, porque amou. Ele escolheu perder sua
vida.
Quando
olho para a vida de Jesus e de outros escandalosos como ele, sou mais uma vez
inspirada a fazer A ESCOLHA PRECIOSA. Ouço a voz que vem do mar, quero cruzar a
linha do abismo e perigo e ali ver refletir o céu. Quero amar. Não quero a
segurança, mas se a segurança é importante que seja para firmar a corda pela
qual me lançarei rumo ao abismo. Deus é abismo. Alma profunda. A poesia sagrada
diz que um abismo chama outro abismo. Cruzarei o mar. Que a segurança sirva
para ajustar a vela do barco que me conduzirá.
Hoje
mais uma vez escolho o sujo, o feio, quero ir além da dor. Isso é belo. Não
chorem por mim. Chorem pelos que escolherão ficar no cais. “Deus é perigo e
abismo, mora no grande mar. (Fernando Pessoa)”.
Eis
aqui o paradoxo da PRECIOSA ESCOLHA:
- Vida perdida que é ganha;
- Porta larga e caminho espaçoso
na terra sólida que gera alma pequena e olho de boi que nada vê;
- Porta estreita e caminho
apertado que conduz ao largo e furioso mar. Intenso como alma grande.
Encerro minhas palavras com
agudas palavras de Cecília Meireles:
Para diante! Pelo mar
largo!
Livrar o corpo da
lição frágil da areia.
Ao mar!
A solidez da terra,
monótona,
parece-nos fraca
ilusão.
Queremos a ilusão do
grande mar,
multiplicadas em suas
malhas de perigo.
Se a vida é feita de escolhas,
você tem hoje a oportunidade de fazer A PRECIOSA ESCOLHA.
Kz.
09/07/2012